E essa celeuma sobre o espanhol mal falado de Wagner Moura na
série Narcos, da Netflix, hein gente?
Um monte de brasileiros revoltados com as críticas, texto de deputado, reclamações dos colombianos.
Um monte de brasileiros revoltados com as críticas, texto de deputado, reclamações dos colombianos.
Eu, sinceramente, acho válida a discussão sobre a questão da
genuinidade em situações desse tipo (ator estrangeiro interpretando um personagem
de outra nacionalidade) principalmente em situações que esse estrangeiro fala outro
idioma, unicamente pelo fato de que, por exemplo, para nós, brasileiros, o
sotaque abrasileirado no espanhol recém-aprendido de Wagner é algo que passa
quase despercebido, enquanto para os hispânicos a coisa pode parecer meio caricata
mesmo.
Isso acaba gerando grandes chances de realmente estragar a produção
para esse público específico, que em escala mundial, pode até ser visto como uma
minoria (não tenho dados sobre o sucesso da Netflix em países de língua
hispânica em comparação com os outros), mas que merece a consideração
principalmente pelo fato da produção tratar de uma figura que contribuiu muito para
reforçar alguns estereótipos negativos que recaem sobre a comunidade latino
americana espalhada pelo mundo e principalmente sobre os colombianos. Seria como se a mesma empresa fizesse um filme
sobre Fernandinho Beira-Mar e contratasse um ator hispânico cheio de sotaque
para o papel. Por melhor que fosse o ator e seu desempenho, para nós, brasileiros,
soaria ridículo.
A série é muito boa (aquele material cativante que Padilha
sabe fazer muito bem) e Wagner está de parabéns por sua ótima interpretação e
todo o esforço envolvido na construção do personagem (como engordar vinte
quilos e aprender espanhol do zero) e não vou condená-lo jamais pela sua
coragem (que também o levou a aceitar segurar os vocais em uma apresentação do
Legião Urbana, que eu achei que ficou bem ruim) pois eu também jamais consigo
recusar tarefas instigantes e desafiadoras e acabo fazendo muita merda por
conta disso.
Quem, no lugar dele, recusaria esse papel?
O vacilo foi da produção, estadunidense, que tem o vício de
achar que do México pra baixo é tudo a mesma coisa. Na minha cabeça eles
pensaram assim “Queremos aquele diretor daquele filme que veio lá de baixo e
fez muito sucesso. Aquele, cheio de bandidos e tiros. E tragam o ator também,
que é um dos maiores de lá e se engordar até vai ficar parecido.”.
Brincadeiras a parte, existem grandes atores que tem como
idioma nativo o espanhol e que poderiam ter feito um trabalho tão bom quanto o do
brasileiro sem, contudo, oferecer um Pablo Escobar caricato ao público hispânico
como, por exemplo, Andrés Parra, que já havia interpretado o mesmo na série “OSenhor do Tráfico”, muito bem recebida na Colômbia, onde o traficante mais
famoso da história é figura sempre presente no imaginário local.
Mas, para além da tradicional indiferenciação antropológica
estadunidense, os “números” também devem ter influenciado essa escolha, já que
a Netflix é grande sucesso no Brasil, que está adorando ver um dos seus atores e
diretores favoritos na produção, e no resto do mundo, que, exceto os que falam
espanhol não vão notar diferença alguma. Achei um vacilo com os hermanos,
principalmente com os colombianos. Até mais!
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