{Resenha} A Metamorfose - de Franz Kafka


"Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, 
Gregor Samsa deu por si na cama
transformado num gigantesco inseto."

Com essa oração assustadoramente surreal - não é a toa que o autor é considerado o grande precursor do surrealismo literário - Kafka inicia sua incrível narrativa sobre a experiência angustiante do caixeiro viajante que um dia, sem mais nem menos, depois de uma noite de sonhos inquietantes - o que não deveria ser raro em sua vida - acorda metamorfoseado em um inseto gigante que causa medo e repulsa a todos que o veem.

Se você ainda não leu nada de Kafka e tem esse livro em mãos, leia. Algumas pessoas costumam deixar A Metamorfose para depois por não ser uma jornada das mais confortáveis mas, sinceramente, não há um caminho fácil.


O livro, que se enquadra na categoria de novela, não é longo e conta uma história que se passa em um mesmo ambiente, em um curto intervalo de tempo e com foco em um pequeno núcleo de personagens. A ação se resume praticamente ao calvário de Gregor se descobrindo como inseto, explorando dificultosamente seu quarto ao mesmo tempo tão estranho quanto familiar e tentando se comunicar com sua família, formada pelo pai, a mãe e a irmã. Nesse ponto se põem duas dificuldades básicas encontradas pelos iniciantes em Kafka. 

A primeira é o próprio estilo da sua narrativa de forma geral, minuciosamente descritiva e com ação quase puramente psicológica, cheia de imagens estranhas - e até chocantes - por conta das frequentes referências biográficas que Kafka costumava inserir em sua obra, por exemplo, um suposto desejo sexual pela irmã entre outras questões muito discutidas nos círculos de estudiosos dos seus escritos.

A segunda diz respeito à situação específica que é narrada, extremamente claustrofóbica, angustiante e desesperadora em alguns pontos. Para pessoas que tem problemas de entomofobia (medo de insetos) a leitura sequer do primeiro parágrafo pode ser extremamente desconfortável ao ponto de ser insuportável.

Definitivamente não é um livro que vai te deixar mais leve e nem com um sorriso no rosto ao final. Mas não é só isso que importa, não é verdade? Fora o desconforto, a angústia e a tristeza, o que vai restar é o prazer de mergulhar em uma obra literária magistral, concebida por uma mente tortuosa e genial, que representa o ápice de um movimento literário da maior importância e que influencia inúmeros autores até os dias de hoje.

Vale a pena cada palavra!

Outros títulos que recomendo: O Processo, Na Colônia Penal, O Castelo, O Veredicto

CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário